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Efeitos da cor: insights da neuroarquitetura


Por Andréa de Paiva


Qual a cor das paredes da sua casa? Ou do seu sofa? E do logotipo da sua empresa? Na maioria das vezes atribuímos às cores um valor cultural e estético. Qual é sua cor favorita? Ou porque ainda hoje associamos azul a meninos e rosa a meninas? Os efeitos das cores no nosso cérebro vão muito além de preferências pessoais ou até de valores culturas. No artigo de hoje vamos discutir alguns insights da NeuroArquitetura sobre este tema tão relevante!

Paint brush. Fonte: Wallperio.com
Fonte: Wallperio.com

Antes de mais nada, é preciso entender que o assunto é muito mais complexo do que parece. Os impactos da escolha de uma cor para a decoração de um ambiente vão muito além da estética ou de gosto pessoal. Por isso as descobertas da NeuroArquitetura são tão importantes: finalmente começamos a entender como o cérebro é afetado pelas cores ao nosso redor.


A cor é um elemento fundamental do ambiente natural no qual nossa espécie surgiu. As cores das plantas, por exemplo, podiam ajudar a perceber se elas eram comestíveis. A cor do céu podia indicar o momento de procurar abrigo de uma tempestade antes que ela começasse. Ou o vermelho do sangue em meio a vegetação podia indicar a presença de uma vítima e, consequentemente, de um predador. Ou seja, a identificação das cores está diretamente ligada à sobrevivência da nossa espécie. Por isso, nosso organismo evoluiu de forma a gerar respostas padronizadas para algumas cores, herdadas da experiência dos nossos antepassados.


Por outro lado, conforme nós passamos a viver em sociedades com culturas próprias, as cores foram ganhando outras dimensões em nossas vidas. Significados foram sendo atribuídos a elas: vermelho é a cor da paixão; preto é a cor do luto. Contudo, esses significados mudam de cultura para cultura. Em muitos lugares, o vermelho é associado à ideologia comunista, por exemplo. Ou, em algumas regiões orientais, o branco é a cor do luto.


Sendo assim, podemos perceber que os impactos gerados pelas cores podem ser divididos em pelo menos dois grandes grupos: impactos herdados e impactos aprendidos [1]. Já faz tempo que cientistas e psicólogos buscam compreender esses impactos. Atualmente, a NeuroArquitetura veio contribuir com essa busca.


Áreas responsáveis pelo processamento da visão.
Áreas responsáveis pelo processamento da visão.

Após estudos com macacos realizados há algumas décadas, os cientistas concluíram que nosso cérebro dedicava uma área específica ao processamento das cores. Essa área, conhecida como o centro das cores (ou V4), fica no lobo occipital, próxima aos outros centros de visão do cérebro [2].


Porém, com os exames de ressonância magnética, os neurocientistas perceberam que o processamento de cor no cérebro humano é bem mais complexo e envolve o trabalho de diversas áreas distintas. Além disso, ele está diretamente ligado às áreas responsáveis pelo processamento de emoções e da memória.


Em uma pesquisa de 2002, um teste foi usado para entender a influência da cor na memória visual de cenas naturais. Os participantes tiveram resultados de 5 a 10% melhores quando eram mostradas imagens coloridas do que quando viam imagens em preto e branco, independente do tempo de exposição da imagem. Vale destacar que essa melhora só acontecia para as imagens que apresentavam cores que estavam de acordo com os padrões das imagens (por exemplo o céu azul e árvores verdes). Assim, os pesquisadores concluíram que o processo de memorização e de reconhecimento está diretamente ligado à nossa habilidade de perceber cores e iluminação [3] .


Apenas a imagem com cores semelhantes às da natureza tinha o efeito de melhorar a memorização
Apenas a imagem com cores semelhantes às da natureza tinha o efeito de melhorar a memorização

Banana

Mas as cores foram tão importantes na nossa evolução que sua conexão com nossa memória vai ainda mais além. Um outro grupo de cientistas descobriu que, quando olhamos para imagens de objetos conhecidos, nosso cérebro completa sua cor, mesmo que ela não esteja lá [4]. Esse estudo foi realizado com a imagem de uma banana. Os participantes percebiam que viam a imagem em preto e branco. Mas o cérebro agia como se estivesse vendo a banana como ela é na vida real: amarela. Isso significa que o cérebro acessou a memória completa da banana, incluindo sua cor, mesmo quando esta não estava lá..


E como os arquitetos podem aplicar esses conhecimentos da NeuroArquitetura para utilizar mais cor em seus projetos? Um bom começo é levar em consideração essa forte ligação das cores com nossa memória. Mesmo numa construção completamente artificial (sem elementos de biofilia), o uso da cor pode levar nosso cérebro a fazer associações automáticas com paisagens de natureza. Um piso areia ou verde ativará muito mais memórias relacionadas à natureza do que um piso branco ou vermelho. Uma parede pintada em tons de azul, variando do mais escuro em cima para o mais claro em baixo vai ativar a memória do céu muito mais do que uma pintura de azul chapado.


As contribuições da NeuroArquitetura para o uso da cor não se esgotam por aqui. Por isso, em breve voltaremos a discutir outros aspectos sobre esse tema!


Quer saber mais sobre o tema? Siga a gente no Facebook ou Instagram! =)



Referências:


[4] Bannert, M., Bartels, A. (2013) Decoding the yellow of a gray banana. Curr Biol. 2013 Nov 18;23(22):2268-2272. Current Biology 23, 2268–2272, November 18, 2013 ª2013 Elsevier Ltd All rights reserved http://dx.doi.org/10.1016/j.cub.2013.09.016




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