Por Andréa de Paiva
1 - A NeuroArquitetura, assim como o NeuroUrbanismo, se define como a aplicação da neurociência aos espaços construídos, visando a maior compreensão dos impactos da arquitetura no cérebro e nos comportamentos humanos.
2 - A NeuroArquitetura possui um caráter interdisciplinar e, ao incorporar elementos da neurociência aplicada, estabelece interfaces ricas com outros campos do conhecimento que, originalmente, não mantinham amplo diálogo com a arquitetura e o urbanismo tradicionais. Sendo assim, a NeuroArquitetura amplia o campo de pesquisas sobre a relação entre o ambiente construído e seus usuários, potencializando a compreensão de diversas mensagens que esse ambiente transmite, inclusive no que se refere a níveis menos conscientes de percepção.
3 - Uma das grandes diferenças entre NeuroArquitetura e Psicologia Ambiental se dá por conta das contribuições da neurociência, que permitem um entendimento mais completo do funcionamento do cérebro e das reações fisiológicas do organismo quando exposto aos estímulos do ambiente. Nesse sentido, é possível afirmar que a NeuroArquitetura engloba também o campo da Psicologia Ambiental, porém vai além ao envolver estudos sobre o sistema nervoso, o sistema endócrino e o sistema imune, por exemplo.
4 - A NeuroArquitetura pode ser estudada em diferentes níveis, variando desde o molecular e o celular até o dos sistemas e do comportamento, sempre buscando compreender como o ambiente físico impacta os indivíduos. Alguns exemplos desses efeitos em vários níveis são: liberação de substâncias químicas como hormônios e neurotransmissores, expressão gênica, plasticidade cerebral ou alteração dos estados mentais, da percepção, das emoções e dos comportamentos.
5 - A NeuroArquitetura pressupõe que o ambiente tem influência direta nos padrões mais primitivos de funcionamento do cérebro, que fogem da percepção consciente. A aplicação da NeuroArquitetura consiste em buscar criar ambientes que possam estimular ou inibir alguns desses determinados padrões, a depender da função do espaço em questão. Nesse sentido, arquitetos que utilizam a neurociência aplicada podem projetar com o objetivo explícito de afetar comportamentos humanos, mesmo os que estão além da percepção e do controle conscientes.
6 - A neurociência revela diversos padrões de funcionamento do cérebro, mas ainda assim as pessoas são únicas por conta das influências genéticas, culturais e da experiência individual. Nesse sentido, o mesmo ambiente pode gerar efeitos distintos em diferentes pessoas e, por isso, a compreensão do público alvo que utilizará os ambientes projetados é fundamental para o sucesso da aplicação da NeuroArquitetura.
7 - O ambiente físico não é a única variável que afeta o funcionamento do cérebro e o comportamento. Características pessoais, ambiente social, hábitos e rotinas são exemplos de outras variáveis que também podem afetar as reações fisiológicas e o comportamento das pessoas. Além disso, cada ambiente tem uma função específica e deve ter características para estimular comportamentos específicos, tais como criatividade, concentração, aprendizado e memorização, socialização, relaxamento, envolvimento, respeito, etc.
8 - Do ponto de vista prático, a NeuroArquitetura pode e deve ser utilizada para tornar a ação humana mais efetiva e, acima de tudo, para criar espaços mais saudáveis no curto e no longo prazo. Assim, o princípio maior da NeuroArquitetura deve ser “eficiência com qualidade de vida e bem-estar pessoal”. Tudo isso por meio da concepção e da utilização estratégica do espaço.
9 - A duração e a frequência de exposição dos indivíduos ao ambiente físico pode impactar nos efeitos que este gera no organismo, na percepção e no comportamento. De maneira geral, quanto maior o tempo de ocupação um determinado espaço, mais duradouros tendem a ser os efeitos que este pode gerar no organismo. Por isso, ambientes de longa ocupação requerem um olhar mais atento dos arquitetos e designers, tendo em vista que eles têm maior chance de gerar efeitos de longa duração, como mudanças plásticas no cérebro.
10 - É fundamental levar em consideração princípios éticos ao projetar utilizando a neurociência aplicada, tendo em vista que o ambiente construído pode influenciar seus usuários sem que estes se deem conta. Esses elementos éticos são de grande relevância em todas as áreas de aplicação da neurociência.
11 - A aplicação da neurociência à arquitetura ou a qualquer outra área deve ser feita com cautela. O cérebro e seus mecanismos são extremamente complexos e a fronteira do conhecimento nessa área está em constante avanço. Se não se mantiver constantemente atualizado, utilizando fontes de informação confiáveis, o NeuroArquiteto poderá ser levado a conclusões questionáveis.
12 - A NeuroArquitetura não consiste na criação de regras específicas que devam ser seguidas por arquitetos ao projetarem. Ela consiste em um conjunto de conceitos envolvendo diferentes propriedades do cérebro que podem ser impactadas por determinadas características do ambiente. Cabe aos arquitetos e urbanistas escolher o que aplicar e quando/onde aplicar.
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