NeuroArquitetura: limites e possibilidades
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NeuroArquitetura: limites e possibilidades

Por Andréa de Paiva


A NeuroArquitetura e todos os assuntos englobados por esse campo de conhecimento interdisciplinar vêm sendo cada vez mais discutidos nos últimos anos. A neurociência aplicada nos permite compreender de forma muito mais profunda os impactos que o ambiente ao nosso redor pode gerar no nosso organismo. E a busca por uma maior compreensão da relação indivíduo-ambiente tem levado arquitetos e urbanistas a estudar áreas que variam desde a neurociência e a psicologia até a economia comportamental. Contudo, as expectativas com relação à NeuroArquitetura e às respostas que ela pode trazer nem sempre são as mesmas. No artigo de hoje, vamos discutir algumas das possibilidades e os limites dentro desse vasto campo.



Os avanços da neurociência possibilitaram a observação, entre outras coisas, de alterações no fluxo sanguíneo do cérebro e na frequência das ondas cerebrais, assim como alterações anatômicas, como o surgimento, o fortalecimento ou a perda de sinapses. Isso, somado a pesquisas que medem variações nos níveis hormonais, na sudorese, nos batimentos cardíacos e na pressão sanguínea e respiração amplia as possibilidades de pesquisa e compreensão de como o nosso organismo reage para se adaptar aos estímulos externos. Essas medições, associadas à observação empírica de comportamentos e estudos feitos com outros animais na psicologia, levam ao conhecimento mais profundo sobre o funcionamento do cérebro e o comportamento.


Com tudo isso, são muitas as possibilidades que surgem para buscar respostas que sempre foram do interesse da arquitetura e do urbanismo. Por exemplo, como o design de um edifício ou de uma cidade afeta aqueles que utilizam estes espaços? São perguntas como esta que norteiam grande parte da tomada de decisão dos arquitetos e designers. E tais decisões são, em muitos casos, tomadas de forma intuitiva ou tendo como base a observação do comportamento das pessoas em diferentes espaços ou pesquisas de opinião.


Quando surge a possibilidade de unir a neurociência à arquitetura e ao urbanismo para compreender de forma mais completa como os espaços impactam seus usuários, surgem grandes expectativas por parte dos arquitetos e até mesmo dos demais usuários dos espaços. Mais do que isso, essas expectativas são diferentes para cada um. São perguntas comuns em cursos e palestras com este tema aquelas sobre como criar um ambiente que "faça bem" para as pessoas que o ocupam. Ou qual a melhor cor para provocar determinada sensação ou comportamento.


Em muitos discursos sobre a NeuroArquitetura e suas possibilidades, é comum que o espaço seja colocado na condição de agente ("espaços que geram ansiedade", "espaços que curam", etc.) e isso pode contribuir para a geração de falsas expectativas. O espaço não age, quem age no espaço somos nós. O ambiente é uma variável que pode influenciar nossa ação, nossa percepção, nosso estado mental. Isto é, nós podemos apresentar diferentes comportamentos e percepções dependendo das características físicas do lugar onde nos encontramos, nós reagimos de maneiras diferentes em ambientes diferentes, mas nem todos responderão de forma semelhante ao mesmo espaço.


A NeuroArquitetura não tem o propósito de criar uma receita a ser seguida pelos arquitetos. A nossa relação com o ambiente é muito complexa para que existam respostas exatas que funcionem para todos os casos. Cada indivíduo possui um grau diferente de suscetibilidade ao meio [1]. Além disso, memórias pessoais de cada um e memórias culturais dos diferentes grupos influenciam na nossa relação com o ambiente. Ou seja, dependendo da cultura e das vivências pessoais de cada um, um mesmo espaço pode gerar percepções e comportamentais diferentes. Por exemplo, um brasileiro que vá à India pode ficar atordoado com o barulho e a forma como o trânsito por lá funciona. Por outro lado, um indiano que venha morar aqui, pode sentir falta dos sons e dos costumes da sua terra natal. Assim como observar o uso de uma cor específica, o vermelho por exemplo, pode evocar memórias relacionadas ao amor e à paixão ou a uma ideologia política, dependendo da sua cultura [2].


A NeuroArquitetura não propõe a criação de "ambientes perfeitos" porque o conceito de perfeição depende do ponto de vista. Uma sala de cirurgia, por exemplo, não é um ambiente agradável, seja por sua aparência asséptica, sua iluminação forte ou pela ausência de janelas e de ventilação natural. Contudo, ela deve apresentar essas características para otimizar as condições para a realização da atividade designada para este ambiente: iluminação que possibilite às médicas e enfermeiras que observem os mínimos detalhes, ausência de elementos de distração e condições de assepsia para evitar contaminação do paciente. Ou seja, a finalidade deste espaço justifica o desconforto que ele gera. As mesmas características físicas que podem ser percebidas como negativas em outro ambiente, neste caso são importantes por conta das atividades que ele abriga.


A eficiência de um ambiente e como ele afeta aqueles que o ocupam vão sempre depender de vários fatores tais como quem são seus usuários, quais são as atividades a serem realizadas naquele ambiente, qual o tempo de ocupação daquele espaço e sua relação com o sistema onde se insere . Ambientes de longa ocupação, tais como nossa casa, nosso trabalho e mesmo a cidade onde moramos nos afetam de maneira diferente dos ambientes de curta ocupação, tais como uma loja ou um restaurante nos quais nós passamos pouco tempo [3].


Em resumo, é preciso ter cuidado ao discutir e pesquisar a NeuroArquitetura. Esse campo de conhecimento que ainda é relativamente novo e vem crescendo a cada ano pressupõe discussões complexas sobre como o ambiente afeta seus usuários e não respostas generalistas que funcionem em todos os casos. Cérebro, comportamento e arquitetura são três temas bastante complexos e oferecer respostas muito simplificadas sobre qualquer um deles pode significar deixar de percebê-lo na sua profundidade. Ainda que a NeuroArquitetura não ofereça todas as respostas, ela oferece aos arquitetos e urbanistas novas ferramentas que ajudam no processo de criação e tomada de decisão, abrindo espaço para repensar antigas soluções e transformando a forma de pensar e criar espaços.



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Referências:






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